Música tem preço? Compondo uma canção feita há 65 anos

Saudações, jovens pupilos.

Começaremos hoje uma série de artigos e vídeos sobre a magia da composição.

Há 65 anos, na Itália pós-guerra, Rosa Sica fazia aulas de violão na cidade de Nápoles, lá um jovem fez uma canção dedicada a ela. Essa canção tinha apenas a letra e a melodia, mas ficou na memória de Rosa Sica. Durante 65 anos ela cantava a canção nas festas e reuniões de família. Todos de sua família conheciam a canção e a história por trás da canção.

Diversas vezes ela me pedia para gravar a música, mas existiam muitas poções mágicas as quais eu deveria me ocupar, e sempre inventava uma desculpa. Mas existia um poder mágico na canção que fazia ela sempre insistir na idéia, até que me deixei ser enfeitiçado.

Existia aqui um desafio, que era um compor uma canção em um estilo musical que eu desconhecia, e que provavelmente, os napolitanos mais jovens também. Era necessário pesquisar os antigos manuais de magia, e ouvir muita música napolitana, é claro.

Rosa Sica me disse que a canção era uma Barcarola. Barcarola é uma valsa tocada pelos gondoleiros de Veneza. Nesse formato a Barcarola mais conhecida se chama “Os contos de Hoffmann” de Jacques Offenbach.

Havia um problema. Barcarola tem um ritmo de ¾ ou 6/8, como todas as valsas. Mas a canção só tinha esse ritmo no refrão. Onde estaria a chave mágica desse mistério? Na poesia. Barcarola também é uma composição poética em que há referência ao mar, ou um rio, ou um lago.

Com essa fórmula mágica me debrucei sobre a letra e percebi essas referências.

Agora era necessário entrar no coração de Rosa Sica. Como ela imaginava essa canção? Qual a época que ela sentia essa canção? Que lugar ela imaginava? Era necessário ouvir os antigos Magos. E quem seriam? Não seriam os italianos mas os napolitanos, pois para Rosa Sica a música napolitana era a melhor música da Itália. Mestres como: Domenico Modugno, Claudio Villa, entre outros.

Finalmente temos que separar os ingredientes da poção.

A canção tinha duas partes:

Parte A em ritmo 2/4.

Gm | Gm | Cm | Gm |

Gm | Gm | Cm | Gm |

Parte B em ritmo 6/8.

G | G | G  D/F# | Am |

Am | Am | Am D/F#| G |

G | G | Am | Am D/F# | G | Gm D7 | Gm |

Quais os instrumentos mais usados nas canções que Rosa Sica ouvia naquela época? Bandolim, Flauta, harpa. Portanto era necessário criar um arranjo que usasse esses instrumentos para criar uma memória afetiva.

Agora, minhas crianças, chegou o momento de misturar os ingredientes no caldeirão. Primeiramente era necessário criar a cozinha, e para isso usamos um contrabaixo acústico e alguns sinos para dar um ritmo leve, além da flauta tocada de forma rítmica no refrão. Em seguida a harmonia que seria executada pela harpa. A parte mais complicada era a melodia principal que era cantada em napolitano. E para o toque final uma melodia tocada pelo bandolim.

Como diria o Mestre dos Magos: - Através dos erros vocês conseguirão a vitória.

Antes de conseguir o resultado final, existem muitos testes, e muita coisa será abandonada. Em certos momentos você achará que não conseguirá fazer algo bom. Mas se seu objetivo foi tocar a alma de alguém, creia que sua música encontrará o caminho.

Até a próxima lição meus queridos pupilos.