A cegueira e a memória musical

A principal estratégia de aprendizado do deficiente visual é a memória. E todo curso ou método do professor, deve ser baseado em como facilitar a memorização do que foi aprendido.

Para facilitar a memorização de uma matéria, as aulas foram divididas em assuntos, que são repetidos durante toda a aula, até que ocorra a mudança de aula. Para isso os arquivos de áudio foram divididos em diversas partes para que o aluno possa repetir quantas vezes desejar, principalmente se ainda não tiver memorizado a matéria.

Em todas as aulas foram criados exercícios de percepção sonora para que o aluno desenvolva a sua memória auditiva.

A memória processual que é a responsável pela habilidade motora, foi sendo desenvolvida passo a passo e repetida durante todo o processo de ensino para que o aluno desenvolva junto com sua memória sensorial .

Durante esse processo de criação de um método de violão popular para deficientes visuais comecei a questionar o método Braille para o ensino de partitura.

O que não significa que não ache o método Braille fantástico, mas que devemos repensar a sua utilização em música, tendo em vista que foi criado no século XIX, muito antes do advento do computador.

Existem hoje alguns formatos para leitura de partitura como o XML, que podem ser bem interessantes para o cego. Ainda não me aprofundei nesse assunto, mas acho que vale a discussão.

Se pensarmos que a ferramenta utilizada pelo cego para a leitura da partitura é a memória, o sistema de partitura do Braille acaba sendo apenas para consulta, e creio que com o computador é possível se criar um formato para leitura de partitura muito mais interessante, quem sabe até mesmo em tempo real.

O caminho do desenvolvimento de uma didática adequada aos deficientes visuais tem de começar pelo processo de estratégias de memorização. E para isso devemos deixar de lado o nosso mundo limitado da visão para um universo sensorial diferente.